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CPI do Crime Organizado é instalada no Senado em meio à tensão política e repercussão da operação no Rio de Janeiro

Comissão surge em cenário de pressão pública e disputa entre governo e oposição pela narrativa da segurança pública

Por Anderson Braga

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Crime Organizado será oficialmente instalada nesta terça-feira (4) no Senado Federal, em um ambiente político marcado pela forte repercussão da recente operação do governo do Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho (CV) nos Complexos da Penha e do Alemão, que resultou em 121 mortes. O avanço da pauta da segurança pública sobre a agenda nacional tornou-se um dos temas mais sensíveis para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Criada em junho, a CPI só inicia seus trabalhos agora, impulsionada pela pressão popular e pelo impacto político das ações de combate às facções criminosas no país. O colegiado terá como foco o “modus operandi” de organizações como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), além da atuação das milícias.

Disputa por comando e articulação política

Ainda não há consenso sobre quem presidirá a CPI — decisão que será tomada durante a sessão de instalação. O relator será o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), autor do requerimento que criou a comissão.

Nos bastidores, o governo tenta articular para que o comando fique sob a influência da base aliada, preferencialmente com nomes como Fabiano Contarato (PT-ES) ou Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado. Entretanto, a indefinição abre espaço para movimentos silenciosos da oposição, que já surpreendeu o Planalto ao conquistar o comando da CPMI do INSS.

Segurança pública no centro do debate nacional

O tema ganhou peso após a operação no Rio de Janeiro e o reacendimento da discussão sobre o uso da Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A oposição tenta transformar o debate em bandeira política, apostando na narrativa de “lei e ordem” para se aproximar do eleitorado de centro.

O governo, por sua vez, busca evitar que a CPI se torne um palanque eleitoral e tenta dar respostas institucionais ao problema. Entre as ações, estão o envio do Projeto de Lei Antifacção e a articulação com governadores para reforçar o enfrentamento conjunto ao crime organizado.

Composição equilibrada e clima de disputa

A CPI será composta por 11 membros titulares e 11 suplentes, com figuras de destaque tanto do governo quanto da oposição.

Oposição:

  • Flávio Bolsonaro (PL-RJ)

  • Sergio Moro (União-PR)

  • Marcos do Val (Podemos-ES)

  • Magno Malta (PL-ES)

Governo e aliados:

  • Jaques Wagner (PT-BA)

  • Otto Alencar (PSD-BA)

  • Rogério Carvalho (PT-SE)

  • Fabiano Contarato (PT-ES) – suplente

  • Randolfe Rodrigues (AP) – suplente

Objetivos da CPI

Com duração inicial de 120 dias, a CPI pretende investigar:

  • a estrutura e a expansão de facções criminosas e milícias;

  • o financiamento e a lavagem de dinheiro;

  • o domínio territorial e prisional exercido por essas organizações;

  • possíveis conexões políticas e institucionais;

  • além de propor medidas legislativas para combater o avanço do crime organizado.

Posições dos parlamentares

O senador Alessandro Vieira declarou que, se confirmado relator, pretende manter o foco técnico da comissão:

“O foco será técnico. Vamos ouvir especialistas, secretários de segurança, governadores e comunidades atingidas para produzir soluções”, afirmou.

Já o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (AP), criticou o que considera uma tentativa da oposição de transformar a CPI em vitrine eleitoral:

“A oposição quer um palanque seja onde for”, disse o senador.

Desafio institucional

A instalação da CPI do Crime Organizado marca o início de um novo capítulo no debate sobre segurança pública no país. Enquanto o governo busca preservar sua narrativa e mostrar eficiência na resposta institucional, a oposição aposta na exposição dos problemas estruturais do Estado para fortalecer seu discurso de enfrentamento ao crime.

Com o cenário ainda indefinido e o tema em alta nas ruas e nas redes, a CPI promete se tornar um dos principais focos da disputa política em Brasília nas próximas semanas.

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