Mulher que esfaqueou ex-companheiro em Jaboatão dos Guararapes alega legítima defesa; vítima morreu após ser socorrida por ela

Por Anderson Braga
Uma mulher de 23 anos foi presa em flagrante após esfaquear o ex-companheiro dentro da própria residência, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. O crime, ocorrido na quinta-feira (26), foi registrado por câmeras de segurança e mostra o momento exato da agressão, que aconteceu enquanto o homem, de 30 anos, segurava o filho do casal, um bebê de 11 meses, nos braços. O caso levanta novos debates sobre violência doméstica, legítima defesa e relações abusivas.
De acordo com o boletim de ocorrência obtido pelo portal g1, a mulher socorreu o ex-companheiro após desferir o golpe. Juntos, eles chegaram à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Engenho Velho, onde o homem foi atendido, mas não resistiu à perfuração no tórax e faleceu pouco tempo depois.
Segundo a versão apresentada pela acusada à polícia, a discussão teve início quando o homem tentou agredi-la fisicamente e, em meio ao confronto, tentou pegar uma faca. A jovem afirmou que se antecipou e desferiu o golpe como uma reação de defesa. “A imputada informou que teve uma discussão com seu ex-companheiro […] e afirmou ter se antecipado e, em suposto ato de defesa, apoderou-se de uma faca e desferiu um golpe na vítima”, relata o boletim.
Nas imagens divulgadas, é possível ver o casal inicialmente sentado no sofá. Em determinado momento, o homem pressiona a ponta de uma faca contra o corpo da ex-companheira. A briga evolui e, em pé, enquanto segura o bebê, o homem discute com a mulher, que, por sua vez, empunha uma faca menor. Em seguida, ela desfere um golpe no peito do ex-companheiro, que deixa a criança no berço e sai correndo para fora do imóvel.
A acusada foi colocada em prisão domiciliar pela Justiça, considerando que é mãe de crianças menores de seis anos. Em audiência de custódia, a juíza Mirna dos Anjos Gusmão destacou que a ré “nunca pretendeu matar a vítima” e que agiu em “legítima defesa própria e de seu filho menor, temendo pela vida de ambos”.
A defesa da mulher, atualmente assumida pela advogada Emilly Amaral, divulgou nota afirmando que o relacionamento, que durou cerca de dois anos, foi marcado por agressões psicológicas e episódios de controle e ciúmes. Apesar da separação há seis meses, a convivência para visitas ao filho era frequente e incentivada.
A advogada também relatou que, no dia do crime, sua cliente tentou acionar os canais da Lei Maria da Penha, por WhatsApp e telefone, mas as tentativas foram frustradas devido à presença do ex-companheiro na residência. “Tais circunstâncias poderão ser comprovadas por meio dos registros e prints das conversas, já entregues às autoridades”, diz o comunicado.
A família da vítima, por sua vez, contesta a narrativa de legítima defesa. A mãe e a irmã do homem relataram um relacionamento conturbado, com brigas frequentes e tentativas de reconciliação motivadas, sobretudo, pela presença do filho. Também afirmaram que o homem havia mencionado episódios anteriores de violência, incluindo o uso de faca e agressões físicas com objetos.
O menino, de apenas 11 meses, está sob os cuidados da avó paterna desde a morte do pai.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil, que busca apurar as circunstâncias do homicídio e esclarecer se houve excesso ou se a ação realmente configura legítima defesa. A acusada permanece à disposição da Justiça, e seu depoimento deve embasar a continuidade do inquérito.
Enquanto isso, o episódio reacende discussões sobre o silêncio em casos de violência doméstica, a dificuldade das vítimas em denunciar e os desfechos trágicos que ainda marcam muitas relações afetivas no Brasil.