
Por Anderson Braga
A permanência do atacante Memphis Depay no Corinthians passou a ser tratada com cautela e reservas nos bastidores do Parque São Jorge. Com um dos maiores salários do elenco, o astro holandês entrou no radar do plano de readequação financeira conduzido pela diretoria interina, que tenta conter os gastos elevados herdados da gestão de Augusto Melo.
O diretor financeiro Emerson Piovezan lidera o esforço para reduzir em 30% os custos mensais do departamento de futebol, que atualmente ultrapassam os R$ 300 milhões por ano. A folha salarial inchada e os atrasos no pagamento dos jogadores refletem um desequilíbrio que se agravou nos últimos meses, especialmente após a suspensão de Melo da presidência.
Internamente, cresce o entendimento de que cortes são inevitáveis, e nomes com salários mais altos, como Depay, podem ser os primeiros afetados. O clube chegou a acumular três meses de atrasos em parte dos vencimentos do atacante, o que acendeu o alerta sobre sua continuidade. Apesar disso, o diretor de futebol Fabinho Soldado ainda não cogita oficialmente a saída do jogador, mesmo com a pressão crescente por ajustes.
Ambiente instável no vestiário
O cenário é tenso nos bastidores. Atrasos salariais têm provocado desconforto entre os jogadores, e aliados do presidente afastado vêm alertando o elenco sobre possíveis novos atrasos sob a atual gestão interina — numa clara tentativa de desestabilizar o grupo e gerar atrito dentro do vestiário.
Enquanto isso, paira sobre o clube um impasse orçamentário. Parte das receitas futuras, como contratos com a Nike e cotas de transmissão previstas para 2026, já foram antecipadas pela antiga gestão, deixando pouco espaço para manobras emergenciais. “Será preciso cortar na carne”, resume um conselheiro ouvido pela reportagem.
SAF volta à pauta com apoio de nomes de peso
Diante do colapso financeiro e da iminência de decisões importantes, o debate sobre a transformação do Corinthians em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) ganhou força. Conselheiros, membros da diretoria interina e figuras históricas do clube, como Ronaldo Fenômeno e o ex-presidente Andrés Sanchez, voltaram a discutir a possibilidade como alternativa para reequilibrar as contas e modernizar a gestão.
O tema deve esquentar nos próximos dias, sobretudo com a chegada da assembleia geral marcada para o próximo 9 de julho, data que definirá se Augusto Melo retornará ou não à presidência do clube. A decisão poderá traçar os rumos do Corinthians nos próximos anos — seja mantendo o modelo associativo ou aderindo à SAF como solução para a crise.
Entre ídolos, salários e incertezas
A contratação de Memphis Depay foi vista, à época, como um grande movimento de mercado e gerou entusiasmo entre os torcedores. No entanto, o impacto financeiro do negócio, somado à fragilidade estrutural do clube, colocou o atacante no centro de uma encruzilhada.
Se a situação não for regularizada a curto prazo, o Timão corre o risco de perder mais do que atletas — pode comprometer sua credibilidade institucional e se ver forçado a acelerar mudanças estruturais profundas.
Enquanto o torcedor aguarda respostas em campo, a bola da vez, fora das quatro linhas, é a sobrevivência financeira do clube.