
Por Anderson Braga
O afastamento do secretário de Estado da Saúde, Gustavo Pontes de Miranda, abre uma nova frente de rearranjos políticos no governo de Paulo Dantas, em um momento especialmente sensível da gestão. Nos bastidores do Palácio, a possibilidade de o secretário executivo Guilherme Lopes assumir, ainda que de forma provisória, o comando da pasta expõe dilemas que vão além da administração da saúde e avançam sobre o tabuleiro eleitoral de 2026.
Guilherme ocupa o cargo de secretário executivo desde 2023. Filho do prefeito de Penedo, Ronaldo Lopes, ele chegou à função após disputar as eleições de 2022 e ficar na terceira suplência para a Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE) pelo MDB. Trata-se, portanto, de um nome com densidade política própria.
É justamente essa combinação capital político e posição estratégica que gera resistência entre aliados. Interlocutores do governo avaliam que a eventual ascensão de Guilherme à chefia da Saúde representaria um forte impulso à sua pré-candidatura à ALE em 2026, criando uma vantagem competitiva significativa em relação a outros aliados do campo governista. No ambiente da Assembleia, essa leitura acende um sinal de alerta: o uso de uma das pastas mais robustas do Estado como vitrine eleitoral tende a provocar tensões internas e disputas por equilíbrio político.
Além disso, há o fator tempo. Mesmo que seja confirmado no cargo, Guilherme Lopes teria uma janela curta para imprimir uma marca administrativa, já que precisaria se desincompatibilizar da função até abril de 2026 para disputar o pleito. Isso levanta dúvidas sobre a viabilidade de uma gestão com foco estrutural, em meio a um cenário de crise e sob intensa vigilância institucional.
Outro elemento que pesa é o contexto do afastamento do titular. A operação da Polícia Federal na área da saúde, deflagrada nesta terça-feira, ampliou o grau de sensibilidade da escolha. Até o momento, Guilherme Lopes que cumpre agenda em Brasília ao lado do pai não se manifestou publicamente sobre o episódio, mantendo silêncio em um momento em que a narrativa política é tão relevante quanto a administrativa.
Do ponto de vista da ciência política, a decisão do governador envolverá um cálculo clássico: governabilidade versus acomodação de aliados. Nomear o secretário executivo pode garantir continuidade administrativa imediata, mas traz custos políticos no médio prazo.
Em síntese, a Secretaria de Estado da Saúde deixa de ser apenas um espaço técnico e passa a ocupar o centro de uma disputa silenciosa, onde cada movimento será interpretado à luz das eleições de 2026 e do equilíbrio de forças dentro do próprio governo.




