Surto de intoxicação por metanol expõe riscos do consumo de bebidas adulteradas no Brasil

Por Anderson Braga
O Brasil enfrenta um alerta de saúde pública que remete a episódios já vistos em outros países: até as 16h desta sexta-feira (3), o Ministério da Saúde confirmou 113 notificações de intoxicação por metanol, todas relacionadas à ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas. Desse total, 11 casos foram confirmados e 102 ainda estão sob investigação.
A situação é mais grave em São Paulo, que concentra 101 registros – todos os casos confirmados até agora ocorreram no estado. Mas o problema não se restringe à região sudeste. Pernambuco (6 notificações), Bahia (2), Distrito Federal (2), Paraná (1) e Mato Grosso do Sul (1) também relataram ocorrências suspeitas, o que reforça a possibilidade de uma cadeia de distribuição irregular que ultrapassa fronteiras estaduais.
Além dos casos de intoxicação, já foram contabilizadas 12 mortes. Uma delas foi confirmada em São Paulo, enquanto outras 11 estão sendo investigadas. Só no território paulista, oito óbitos estão sob apuração.
A urgência do antídoto
O metanol é um álcool altamente tóxico, cujo consumo pode causar desde náuseas e perda de visão até falência de órgãos e morte. Em situações de contaminação, o tratamento precisa ser rápido. A primeira resposta do Ministério da Saúde foi garantir a compra emergencial de 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico, antídoto de uso hospitalar capaz de neutralizar os efeitos da substância. Outras 150 mil ampolas estão em processo de aquisição, garantindo cerca de 5 mil tratamentos no SUS.
Mas não é só o etanol que pode salvar vidas. Há também o fomepizol, medicamento mais eficaz, mas com disponibilidade restrita no mercado global. Poucos países mantêm estoques desse produto. Por isso, o governo brasileiro iniciou uma corrida diplomática: acionou a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para a doação imediata de 100 tratamentos, manifestando ainda a intenção de adquirir outras mil doses pelo Fundo Estratégico da entidade. Além disso, empresas e instituições na Índia, nos Estados Unidos e em Portugal já foram contatadas em busca de doações ou possibilidades de compra.
Mobilização além das fronteiras
A gravidade do surto levou o Ministério da Saúde a pedir que a Anvisa faça um chamamento internacional às dez maiores agências reguladoras do mundo, incluindo União Europeia, Estados Unidos, Japão, Reino Unido e China. O objetivo é ampliar a cooperação internacional para acelerar o acesso aos antídotos.
Essa mobilização evidencia não apenas a dimensão do problema, mas também a vulnerabilidade do Brasil diante da escassez de medicamentos estratégicos no mercado global.
Risco sanitário e resposta emergencial
Desde quarta-feira (1º), estados e municípios foram orientados a notificar imediatamente todas as suspeitas de intoxicação. Paralelamente, uma sala de situação foi instalada no Ministério da Saúde para acompanhar, em tempo real, a evolução dos casos. A estrutura extraordinária permanecerá ativa enquanto houver risco sanitário e necessidade de monitoramento nacional.
O surto lança luz sobre uma questão que vai além da saúde: a circulação de bebidas adulteradas em território brasileiro. O consumo, muitas vezes associado ao preço mais baixo, expõe a população a riscos letais. Para especialistas, os casos recentes funcionam como um alerta duplo: da necessidade de fortalecer a fiscalização de bebidas comercializadas e da importância de manter estoques de antídotos em quantidade suficiente para enfrentar emergências.