Crise em Washington: Briga entre Trump e Elon Musk expõe tensões políticas, interesses bilionários e escândalos do passado

O que parecia uma parceria estratégica entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o bilionário Elon Musk se transformou em uma batalha pública de proporções épicas, misturando política, contratos bilionários, escândalos sexuais e redes sociais. A ruptura, que veio a público na última quinta-feira (5), revela fissuras profundas entre o líder republicano e seu ex-aliado mais influente.
A crise se acentuou após críticas de Musk ao novo projeto de lei orçamentária do governo Trump, apelidado de “One Big Beautiful Bill”. A proposta, que conta com mais de mil páginas, prevê cortes permanentes de impostos e mudanças radicais em políticas sociais e ambientais. Um dos pontos mais sensíveis para Musk é a eliminação de subsídios a veículos elétricos — medida que pode impactar diretamente a Tesla, uma de suas principais empresas.
A resposta de Trump veio com ameaças: “A maneira mais fácil de economizar bilhões e bilhões de dólares em nosso Orçamento é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk”, publicou no Truth Social. O presidente acusou Musk de agir por vingança após o fim dos incentivos à indústria de carros elétricos. E foi além: sugeriu cortar todos os vínculos do governo com empresas do bilionário, como a Tesla e a SpaceX — esta última crucial para o atual programa espacial americano.
Musk, por sua vez, não recuou. Em uma escalada surpreendente, afirmou que Trump está envolvido no escândalo sexual ligado ao financista Jeffrey Epstein, e sugeriu que seu nome aparece em documentos não revelados da investigação. “Donald Trump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos”, escreveu no X, rede social da qual também é proprietário.
A acusação explodiu no meio político como uma bomba. Trump negou qualquer envolvimento, mas não respondeu diretamente às alegações. Ele preferiu minimizar a importância de Musk, afirmando que o bilionário “ficou louco” após a retirada do “Mandato dos Carros Elétricos”, em referência às políticas ambientais herdadas da era Biden.
A briga alcançou novos patamares com ameaças de Musk de desativar a cápsula Dragon, da SpaceX — peça-chave do atual programa da NASA. A empresa também participa da missão Artemis, que pretende levar novamente humanos à Lua. Com a Dragon fora de operação, o cronograma espacial americano corre risco.
A relação entre Trump e Musk, que parecia sólida até o fim de maio, já mostrava sinais de desgaste. Musk havia ocupado o cargo de diretor do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), com a missão de reduzir os gastos federais. Apesar de ter encerrado contratos e eliminado milhares de cargos, os resultados ficaram abaixo do esperado, e Musk deixou o cargo discretamente no fim de maio.
Ainda assim, o bilionário continuou exercendo forte influência política. Foi um dos principais financiadores da campanha republicana em 2024, com mais de US$ 200 milhões investidos, e afirmou que, sem seu apoio, Trump teria perdido a eleição. “Quanta ingratidão”, escreveu, em resposta às críticas do presidente.
O episódio marca não apenas a ruptura entre dois dos homens mais poderosos dos EUA, mas também expõe o frágil equilíbrio entre interesses privados e políticas públicas. As trocas públicas de insultos e ameaças revelam uma aliança que deixou de ser estratégica para se tornar tóxica.
Agora, o governo americano se vê diante de um impasse: manter ou não contratos com empresas essenciais como a SpaceX. E mais: se as acusações de Musk sobre Trump e Epstein ganharem corpo, a crise pode ter repercussões jurídicas e eleitorais imprevisíveis.
Enquanto isso, o Congresso se prepara para votar o controverso projeto de lei orçamentária — cenário que promete ser o próximo palco deste conflito explosivo.
Por Anderson Braga