
A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP), condenada a dez anos de prisão por invasão hacker e falsidade ideológica, passou a ser oficialmente considerada foragida internacional. Seu nome foi incluído na lista de difusão vermelha da Interpol, o que representa um pedido de cooperação global para sua localização e possível prisão, encaminhado a 196 países-membros da organização policial internacional.
Com o chamado red notice, informações como foto, digitais e dados biométricos da parlamentar são distribuídas a autoridades de imigração, segurança e alfândega em todo o mundo. A decisão sobre prendê-la, no entanto, cabe às autoridades locais do país em que ela estiver.
Segundo a Polícia Federal, Zambelli deixou os Estados Unidos e viajou à Itália antes da inclusão de seu nome na lista da Interpol. O país europeu, ao contrário de outras nações, pode usar o alerta vermelho como base legal para a detenção imediata — ainda que a decisão dependa de avaliação judicial e da gravidade dos crimes atribuídos.
Cooperação entre Brasil e Itália
Na prática, o alerta deflagrou um processo de cooperação direta entre autoridades brasileiras e italianas, que agora compartilham informações sobre o paradeiro e os deslocamentos de Zambelli. Caso ela seja localizada e detida, deverá passar por uma audiência judicial na Itália que decidirá se sua prisão será mantida ou não, com base na legislação local.
Simultaneamente, o Brasil precisa formalizar um pedido de extradição. O trâmite começa no Supremo Tribunal Federal (STF), passa pelo Ministério da Justiça e segue para o Itamaraty, responsável por acionar oficialmente o governo italiano. Trata-se de um processo que, historicamente, não é rápido nem simples.
O caso mais emblemático é o de Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil, condenado no escândalo do Mensalão. Ele foi preso na Itália em 2014 e só retornou ao Brasil após 18 meses de batalhas judiciais. À época, um tribunal de Bolonha chegou a negar sua extradição, alegando falta de direito a recurso — argumento que foi posteriormente derrubado.
Dupla cidadania e jurisprudência
Embora a Itália não extradite seus próprios cidadãos em regra, a jurisprudência indica que a dupla cidadania não é uma barreira intransponível. Pizzolato, que também era cidadão italiano, acabou sendo extraditado. Já no caso do banqueiro Salvatore Cacciola, condenado por crimes financeiros, a Itália se recusou a enviá-lo de volta ao Brasil, alegando reciprocidade: como o Brasil não extraditava brasileiros, a Itália seguiria o mesmo princípio.
Não há, até o momento, informações de que Zambelli possua cidadania italiana. Ainda assim, um fator decisivo será a chamada dupla tipicidade — ou seja, os crimes pelos quais ela foi condenada no Brasil precisam também estar tipificados na legislação italiana. Além disso, tribunais europeus costumam avaliar condições carcerárias, respeito a direitos humanos e possíveis motivações políticas por trás de pedidos de extradição.
Expulsão como alternativa
Apesar da complexidade do processo formal de extradição, há um caminho alternativo e mais ágil: a expulsão. Essa medida é possível quando o foragido comete uma infração administrativa ou criminal no país em que se encontra, como uso de documentos falsos. Foi o que permitiu, por exemplo, a expulsão do narcotraficante Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, da Bolívia em maio deste ano. No caso de Zambelli, contudo, até onde se sabe, ela deixou o Brasil com passaporte válido e sem cometer delitos no exterior.
Condenação no Brasil
A deputada foi condenada por envolvimento com um grupo acusado de invadir sistemas de autoridades públicas e adulterar dados em benefício próprio e de aliados políticos. A sentença foi proferida por um colegiado da Justiça Federal, o que torna sua pena definitiva para fins de extradição.
Com a inclusão na lista da Interpol, Carla Zambelli agora enfrenta não apenas o peso da condenação judicial brasileira, mas também os desdobramentos diplomáticos e legais de ser procurada em escala global. Seu destino, ao menos por ora, está nas mãos da Justiça italiana.