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Execução de blogueiro impõe rotina de silêncio e medo na cidade de Junqueiro

Adriano Farias, de 33 anos, foi morto a tiros em 18 de junho, dentro de seu carro

O nome de Adriano Farias, 33, parece proibido na cidade de Junqueiro. As pessoas que conversaram com a Gazeta pediram anonimato ou se negaram a comentar sobre o assassinato do blogueiro. Todos têm algo a perder, exceto a mãe dele, Maria Eline de Farias Silva, de 77 anos.

No dia 18 de junho, o blogueiro Adriano Farias, 33, tentava chegar à sua casa quando os primeiros tiros vieram. Estava quase na porta, no bairro do Retiro, em Junqueiro, mas não conseguiu entrar. Bateu na parede da garagem e seguiu pela rua até ser atingido fatalmente.

Eline disse que pensava que eram fogos de artifício. Quando foi à rua, os disparos já tinham parado, mas reconheceu o carro e o filho.

Em conversa com a Gazeta, ela disse que já estava pressentindo que algo de ruim estava pairando sobre a família. Foram três dias de sonhos ruins até a morte de Adriano. “É um sentimento de mãe”, afirma. Segundo ela, o blogueiro estava mais recluso uma semana antes do crime.

“Tinha pedido que só fizessem algo com meu filho quando eu morresse. Não respeitaram esse pedido. Agora, sem ele, não tenho medo de nada. E ele ficou sem me dizer nada. Mas eu achando ele tão estranho, que ele não saía de casa. Ele não era menino que bebia, que fumava, que gostava de festa. De jeito nenhum.”

O descaso de Eline com a vida era tanto que as portas de casa sequer estavam trancadas. Restavam para ela as memórias de Adriano. A primeira foi a adoção: encontrou-o na porta de casa com um dia e meio de vida. A última, vê-lo deitado no banco do passageiro do carro e o sangue que escorria pelo rosto.

“Eu tive coragem de ir olhar. Digo, porque se ele estivesse vivo, eu iria socorrer meu filho, esteja como estiver. Mandei chamar a ambulância, mandei chamar a polícia. Quando vi, estava só o sangue correndo por cima dos olhos. Já estava com os dois fechados, caído assim no outro banco. E os olhos fechados, pronto, sabia que já estava está morto. Aí eu entrei no desespero”, contou.

Antes da conversa, a Gazeta bateu na porta da casa diversas vezes, mas sem resposta. Foi preciso falar com uma pessoa da vizinhança, que também tentou o contato e só conseguiu ao virar a maçaneta, sem qualquer resistência da fechadura, para entrar na casa e trazer a mãe do blogueiro à realidade.

A vizinha, porém, foi mais uma que se negou a dar detalhes sobre o crime, embora tivesse sido a poucos metros da entrada de sua residência.

Eline carregava uma flanela no ombro esquerdo, limpando os olhos já cansados de derrubar lágrimas. A casa grande, de muros altos e terreno amplo, tinha pouco barulho. As plantas, que eram cuidadas por Adriano, cresceram todas irregulares, como o compasso dentro daquele ambiente que comportava o pesar da aposentada.

Para fora dos muros, a cidade toda sabia do crime. “Foi um choque”, “Ninguém esperava”, “Era um homem bom”, “Criticava bastante nas redes sociais”, foram os comentários. Supor sobre a morte? “Dizem por aí”, “É o que comentam”, “Não quero me meter”.

Eline foi mais direta. Acusou um problema com a família do prefeito Leandro Silva, de quem Adriano teria se tornado desafeto por uma relação trabalhista com um dos irmãos e pela invasão do seu terreno pela parte da mãe de Silva, Rejane Maria da Silva.

Rejane foi foi presa por homicídio em 2021 por um crime que aconteceu em 2005, com condenação em 2010. Para Eline, essas disputas teriam sido a causa, embora não possa comprovar.

“Dona Rejane entrou, que é a mãe do prefeito, entrou com a máquina no meio do meu sítio, derrubou o coqueiro, derrubou tudo, fez uma rodagem para sair nessa estrada. Aí ele foi e deu parte dela. Processou. E ele já tinha processado o filho dela, que ele trabalhou junto há algum tempo, por conta dos direitos que ele tinha”, afirmou.

Na visita da Gazeta, Junqueiro parecia se comportar como uma cidade normal de interior: pessoas nas ruas e praças, um comércio ativo, nenhuma grande mudança numa rotina pacata. Falar do crime, no entanto, tornava o panorama diferente.

Ao se falar com uma pessoa e tocar no nome de Adriano, outras já mantinham o olhar direto, em análise, ou se afastavam para evitar perguntas. Foi assim em duas lojas. Todo mundo sabia passar onde ficava a casa, alguns detalhes do crime, mas as possíveis motivações eram omitidas.

O prefeito Cícero Leandro Pereira Silva (PTB) não se encontrava no prédio da Prefeitura. Estava em uma viagem pelos povoados para visita a obras que seriam entregues no dia 9 de julho, aniversário da cidade, segundo um de seus assessores.

Por Josué Seixas

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