
Minha cidade além de ser beira de rio e termos vários casarões coloniais, tínhamos também várias rádios. Algumas mais tradicionais, outras eram criadas quando as eleições estavam próximas.
Era um deus me acuda, quando a campanha se aproximava, pois todos queriam uma rádio para chamar de sua. Em um determinado ano, criaram uma rádio nova, a chamada Faraó FM, mas quase toda a cidade chamava ela de Fedor de Boca FM.
A Fedor de Boca FM levava esse apelido por que entre seus radialistas tinham espécimes raras do nosso município. Sempre enrolados e com passados nebulosos. Um dos locutores só vivia embriagado pelas ruas, o outro era famoso por não pagar o povo e criar fake news e um outro, trabalhava em uma cidade, ganhando dinheiro sem aparecer e fazendo programa na rádio.
Imagina a qualidade do jornalismo que era produzido por esses três profissionais que tentavam a todo custo passar um pouco de credibilidade.
Mas o mais engraçado era quando eles abriam os microfones para os ouvintes. Eram sempre os mesmos. Já sabíamos quem eram os participantes.
Toda semana se revezavam. Tinha dia que era para o desempregado que passou um tempo foragido do município. No outro dia era para um rapaz que praticava atos libidinosos em nossas praças e fugia para o exterior. Tinha também as tias que nunca trabalhavam e os doidos do CAPs, que quando não se medicavam, ficavam ligando para falar ao vivo.
Era um verdadeiro circo de horrores escutar a Fedor de Boca FM, pois todos os dias tínhamos uma figura folclórica para nós fazer rir.
As vezes alguém me pergutava no meio da rua, se eu escutava a Faraó FM e eu me esquecia que era o verdadeiro nome e só me lembrava quando me diziam: meu amigo, é a Fedor de Boca FM. Eu logo ligava o nome ao apelido e dizia que eu não perdia meu tempo escutando fake news.
Por O Misterioso