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Ex-diretor da PRF admite ordens do Ministério da Justiça para fiscalizar ônibus rumo ao Nordeste durante eleições de 2022

Em depoimento prestado nesta terça-feira (27) à 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-diretor de operações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Djairlon Henrique Moura, confirmou que recebeu ordens do Ministério da Justiça para intensificar a fiscalização de ônibus com destino à região Nordeste durante as eleições de 2022. A medida, segundo Moura, teria como objetivo coibir o transporte irregular de eleitores e valores em espécie, prática considerada crime eleitoral.

A oitiva de Djairlon integra a fase de coleta de depoimentos das testemunhas de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, no âmbito da ação penal que investiga uma tentativa de golpe de Estado supostamente articulada por membros do alto escalão do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Moura relatou que a solicitação para a realização das blitzes partiu da Secretaria de Operações Integradas, durante reunião realizada no próprio Ministério da Justiça. “Foi solicitada a realização de uma operação antes da eleição dos ônibus que saíssem de São Paulo e da região Centro-Oeste com destino ao Nordeste com votantes e recursos financeiros que já estavam em investigação pela Polícia Federal”, afirmou o ex-diretor, acrescentando que a maioria das abordagens não ultrapassou 15 minutos de duração.

Contudo, segundo um servidor da PRF ouvido pela Corte, a ordem para que a inteligência da corporação reforçasse a atuação durante o pleito partiu do próprio Djairlon, que, por sua vez, teria agido a mando da direção-geral. Ainda segundo o relato, havia orientação expressa da chefia para que a PRF “tomasse um lado” nas eleições.

Durante o depoimento, Djairlon negou qualquer viés político nas operações. Segundo ele, o então ministro Anderson Torres teria apenas solicitado que PF e PRF se empenhassem “ao máximo” para garantir a segurança do processo eleitoral e prevenir delitos, como o transporte ilícito de eleitores e de recursos financeiros.

Além de Djairlon Moura, foram ouvidos nesta terça-feira os delegados da Polícia Federal Bráulio do Carmo Vieira, Luís Flávio Zampronha e Caio Rodrigo Pellim; os delegados da Polícia Civil do Distrito Federal Alberto Machado e George Estefani de Souza; e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha. Ao todo, estão previstos 25 depoimentos indicados pela defesa de Anderson Torres ao longo da semana.

O caso é parte de uma investigação mais ampla, que ganhou novos contornos em março deste ano, quando a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou denúncia ao STF contra Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas, acusadas de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa.

De acordo com a PGR, a trama golpista teria como líderes o então presidente da República e seu vice na chapa à reeleição, Braga Netto. A denúncia sustenta que o grupo — composto por militares, civis e membros do governo — atuou de forma coordenada para impedir a posse do presidente democraticamente eleito em 2022.

As investigações seguem sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes e representam um dos principais desdobramentos judiciais no pós-eleições, com potencial de redefinir os rumos políticos e jurídicos de figuras centrais do último governo.

Por Anderson Braga

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